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Cortador de cana deixa lavoura para trabalhar comosushiman em Maceió

sábado, 27 de abril de 2013 Marcadores:
O período de safra da cana-de-açúcar na década de 90, em
Xexéu , município pernambucano, era sempre penoso para o
cortador de cana Rogério Cristóvão da Silva e seus 14 irmãos.
Apesar de tirarem o sustento da família nas lavouras, as
lembranças da época não eram as melhores. Um facão afiado
era a principal ferramenta de trabalho deles, que, sob o sol
quente e em meio a poeira e bichos peçonhentos, desferiam
mais de 10 mil golpes por dia contra a planta que seria moída
para virar açúcar ou álcool.
Na época em que trabalhou na lavoura, desde os 5 até os 18
anos, essa era a única serventia do facão para Rogério. O
cortador de cana coleciona marcas de ferimentos causados por
um erro de cálculo no manuseio do objeto. Mal sabia ele que,
alguns anos depois, a lâmina teria uma serventia bem menos
braçal.
Hoje, aos 30 anos, Silva, a esposa e uma filha do casal moram
em uma casa própria em Maceió , comprada com o dinheiro
arrecadado com a nova profissão: sushiman. Sua história de
vida, diz ele, é contada para poucos. E foi em uma dessas
conversas informais, entre a preparação de um temaki e uma
barca de sashimis, que Silva afirmou à reportagem do G1 que
não foi nada fácil o caminho percorrido da lavoura até sua
contratação como chef de um restaurante de comida japonesa
em um shopping da capital alagoana.
"Meu pai era muito ignorante. Quando eu tinha cinco anos ele
já me levou para cortar cana. A gente passava o dia na
lavoura. Em média, a gente cortava umas sete toneladas de
cana por dia. Isso rendia R$ 30,00. Quando a gente chegava
em casa era só o tempo de comer e cair na cama, a exaustão
e o sofrimento eram grandes. Cheguei a chorar várias vezes
no meio das canas", relembra.
Rogério afirma que, desde jovem, sabia que essa não era a
vida que queria para ele. Chegou a se mudar para Mato
Grosso do Sul aos 18 anos para tentar ganhar dinheiro em uma
colheita de cana, mas ele descreve o período como o pior da
sua vida. "O clima era péssimo, seco, muito mais calor do que
em Pernambuco . Não me adaptei à comida, passava mal e
depois de sete meses acabei voltando para Xexéu", relembra.
Uma chance para o futuro
Um convite de um amigo para passar uns dias conhecendo a
capital alagoana foi o começo de toda a mudança na vida do
ex-cortador de cana. Maravilhado com as belezas naturais da
cidade, Rogério decidiu ficar de vez em Maceió, casou e
começou a trabalhar como ajudante de pedreiro.
"Eu fazia todo serviço que aparecia. Vivi algum tempo de favor
na casa do meu amigo e depois consegui alugar um quartinho.
Em um dos serviços, me chamaram para ajudar na construção
de um restaurante de comida japonesa. Foi a primeira vez que
ouvi e vi esse tipo de comida. Não gostava, mas hoje acho
gostosa", diverte-se ao lembrar da dificuldade em se
acostumar com o sabor da culinária japonesa.
Apesar do jeito brejeiro, como ele mesmo se intitula, Silva
conseguia conquistar os chefes pelo carisma e iniciativa no
trabalho. Quando o restaurante inaugurou, pedi para
acompanhar a cozinha. Comecei lavando os pratos, depois
descascando os legumes, em seguida já estava fazendo a
preparação dos alimentos para o sushiman. Eu queria aprender
tudo, não negava serviço porque esperava ter uma chance",
destaca.
Silva demonstra intimidade com a cozinha nipônica.
De ajudante de sushiman para comandar a cozinha foi um pulo.
Em um dia de necessidade, o ex-cortador de cana começou a
preparar os pratos e seu salário foi acompanhando a promoção
profissional. Ele conta que não fez curso algum. "Aprendia
olhando e muitos sushimans me ajudaram dando dicas".
Entre idas e vindas em restaurantes, hoje, Silva é o sushiman
de um restaurante em um shopping de Maceió. Continua tendo
intimidade com o facão, mas agora cortando filetes de salmão,
atum e outros tipos de peixe. A clientela aprova as habilidades
dele na culinária oriental. "Tudo que ele faz é delicioso e o
diferencial é o atendimento, sou muito bem tratada aqui",
afirma a funcionária pública Suzy Melo.
Empreendedorismo
Há quase 10 anos no mercado, Rogério já começa a alçar voos
solos. Mesmo tendo recebido propostas de outros restaurantes
japoneses, Rogério é fiel ao chefe, mas complementa sua renda
com encomendas em festas particulares.
"As pessoas que conhecem meu trabalho me contratam para
jantares, aniversários e festas. Eu aprendi a calcular a mão de
obra e material, preço dos peixes, tudo sou eu que levo para
a casa do cliente. Meu chefe até me apoia, porque,
indiretamente, eu acabo divulgando o restaurante também",
contou.
Sushiman mostra com orgulho o resultado do nova profissão.
No réveillon deste ano, Silva foi contratado com outros cinco
sushimans para produzir mais de 60 mil peças de sushi para
uma festa particular da cidade. "Foi cansativo, mas, com o
dinheiro extra, comprei uma moto e estou investindo nos
estudos da minha filha, disse.
Entre peças de sushi com nomes como uramaki, temaki,
sunomono entre outras, a surpresa foi quando rogério revelou
que é analfabeto. "Eu decorei o cardápio, pode perguntar
qualquer coisa daí que eu sei o que é, mas fora do cardápio aí
já complica", disse o sushiman que destacou ainda a vontade
de ter um negócio próprio.
Procurado pela reportagem do G1 , o gerente de atendimento
do Sebrae, Marcos Alencar, foi informado sobre a situação e
afirmou que a determinação e visão empreendedora do agora
sushiman são louváveis, mas que não pode parar aí. "É
fundamental que ele se alfabetize, pois como ele vai assinar
contratos sem saber ler? É importante também que ele tenha
cursos sobre como gerir seus negócios e que ele se capacite,
ainda mais em uma culinária onde os consumidores são mais
exigentes. Depois ele deve formalizar-se como
microempresário", aconselha Alencar.
Rogério Cristóvão da Silva, o ex-cortador de cana que hoje
sustenta a família com o que ganha trabalhando com a
culinária japonesa, brinca que não é preciso ser apressado
"para comer cru". Ele garante que paciência e determinação
são algumas de suas virtudes e afirma que o início dos estudos
é prioridade na sua vida a partir de agora. "Preciso manter
meu negócio e dar um bom exemplo para minha filha", diz.

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